MAIS de quatro mil habitações poderão ser afectadas pelas cheias e inundações na cidade de Quelimane, caso se confirmem as previsões meteorológicas que apontam para a ocorrência de chuvas com tendência acima do normal.
Trata-se de habitações edificadas nas áreas de reassentamento informal outrora exploradas pela antiga empresa agro-pecuária Dúlio Ribeiro, entre os bairros Micajune e Padeiro, arredores da capital provincial da Zambézia.
A nossa Reportagem escalou há dias aqueles dois bairros e constatou que os espaços foram ocupados sem a observância de urbanização básica, sendo que os mesmos foram ocupados de forma ilegal ante a aparente complacência das autoridades municipais.
Ana António, 32 anos de idade, casada e mãe de dois filhos, moradora do bairro Micajune “B” reconhece que a zona não reúne condições de habitabilidade.
Para minimizar a situação, os residentes procederam à abertura de pequenos canais para o escoamento das águas até ao riacho que por ali corre. De acordo com Ana, sempre que chove as águas invadem as suas residências e o terreno fica lamacento.
Por seu turno, Estevão Lopes, 52 anos de idade, ido há quatro ano de Inhassunge, residente no bairro Nicajune, reconhece que o terreno é inóspito, com poças de água um pouco por todo o lado e lama, e afirma que os moradores não têm espaço para edificar as suas habitações sendo que, a cada dia que passa, mais residentes chegam ao local.
A área, desde o tempo colonial, nunca foi habitada sendo que a mesma servia para a pastagem do gado da ex-empresa agropecuária Dúlio Ribeiro que tinha a sua sede social no actual bairro Chuabo Dembe.
No entanto, nos dias que correm se verificam imponentes construções, misturadas com outras precárias, uma conjugação entre a riqueza e pobreza.
De referir que, a construção de uma casa com material convencional requer autorização das autoridades municipais sendo que, apesar de a maior parte delas estarem concluídas, nenhuma foi embargada.
A nossa Reportagem constatou que novos talhões estavam a ser demarcados pelos próprios residentes.
Por outro lado, a empresa Electricidade de Moçambique (EDM) está a estender a rede eléctrica pública, acção que ocorre ante às precárias condições ambientais e sem os serviços sociais básicos, nomeadamente educação e saúde.
Apesar deste facto, os residentes afirmam que não vão abandonar o local, alegadamente porque não encontram espaços na cidade de Quelimane, mesmo nas áreas em expansão.
O edil, Manuel de Araújo, fez saber que, por diversas ocasiões, equipas do Conselho Municipal estiveram naqueles bairros para sensibilizar os moradores a abandonar a área, sem, no entanto, lograr os anseios.
“A nossa Polícia Municipal não tem armas, por isso, as pessoas não têm medo”, disse De Araújo para quem o que se pretende com a retirada das pessoas daquelas áreas é preservar as suas vidas.
De Araújo acusou, por outro lado, a EDM – Área do Serviço ao Cliente de Quelimane de estar a fomentar a ocupação daquelas áreas por estender a rede de energia eléctrica pública.
Para Manuel de Araújo, se a EDM e Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG) não prestassem serviços ninguém estaria motivado a construir naquelas zonas. No entanto, não foi possível ouvir a versão destas duas empresas apesar nos esforços envidados nesse sentido pela nossa Reportagem.
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