Os transportes semi-colectivos de passageiros e autocarros já não respeitam a lotação máxima exigida no contexto do Estado de Calamidade Pública, nas cidades de Maputo e da Matola. Os minibus carregam quatro pessoas em cada banco e outras viajam em pé. Os autocarros chegam a transportar mais de 70 passageiros. Um ambiente de fácil propagação da COVID-19 está criado. A Polícia já não se faz à rua para fiscalização.
O Presidente da República anunciou o relaxamento de algumas medidas no contexto da prevenção da COVID-19. Entretanto, o que acontece no sector dos transportes sugere um total desleixo e comportamentos de risco de contaminação pelo novo Coronavírus.
Antes do relaxamento, a prevenção era a palavra que orientava os moçambicanos na luta contra a pandemia e, talvez, seja isso que pode explicar o baixo número de casos da doença no país, comparativamente o que acontecia noutros países.
O tempo passou e parece ter levado consigo toda a noção do perigo que o Coronavírus representa. Os cobradores penduram-se nas portas das viaturas e, em viva voz, chamam os passageiros para levá-los a uma viagem de risco cujo destino final pode ser a contaminação ou fatalidade.
“Eu não sei nada sobre a lotação máxima de passageiros. Só estou a trabalhar e quando as pessoas pedem, eu deixo subir”, esquivou-se um cobrador, ao responder por que razão excedia o limite de passageiros imposto pelas autoridades no contexto do Estado de Calamidade Pública.
O cobrador pode não saber dizer muito sobre este comportamento, mas o facto é que os semi-colectivos que fazem o trajecto Malhampsene-Machava carregam, em cada banco, quatro pessoas, contra três estabelecidas pelas autoridades.
“Há falta de transporte. As pessoas perdem muito tempo nas paragens e depois pedem para viajar sentando quatro em cada banco. Nós aceitamos porque queremos fechar receita”, justificou Paulo Langa, motorista que opera naquela rota.
Para se fechar a receita, tudo é válido! Passageiros não só sentam em número de quatro, como também há os que viajam em pé e sem máscaras. Uma total exposição à COVID-19. “Não há outra alternativa”, pela qual optar. “Não há transporte. Então é esse o motivo que nos leva a arriscar. Mesmo sabendo da existência do vírus, sentamos mais de três pessaos” no mesmo banco, disse Ivan Amadeu, passageiro, num tom de resignação.
“Os TPM carregam de uma forma exagerada do que chapeiro. Nesses pequenos, sentamos quatro, mas não estamos em pé como nos autocarros”, indicou Cossinate Comé, outro passageiro, acrescentando que as autoridades devem começar por acabar com superlotação nos autocarros e depois poderá atacar os semi-colectivos.
Nos terminais rodoviários, os transportadores carregam quatro passageiros por banco e passam pelas autoridades, diante de um olhar indiferente.
Os agentes da Polícia Municipal da Matola se faziam transportar numa viatura particular e a sua atitude para com os semi-colectivos que carregavam o número muito acima do recomendado é de total indiferença.
Se por um lado há, diga-se, tolerância por parte de quem devia garantir a observância da medida, na Maquinag, na cidade de Maputo, os polícias já nem se dão o trabalho de fiscalizar.
“Já há mais ou menos um mês que não vejo a Polícia na fiscalização da lotação de semi-colectivos de passageiros e autocarros”, revelou Juvêncio, passageiro interpelado na paragem da Maquinag.
Sem as autoridades para fiscalizar, alguns operadores de transporte semi-colectivo, não poucos, carregam o número de passageiros que lhes convêm. Outros tratam clientes com indelicadeza, insultando-os.
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