Uma analista, coautora de um estudo sobre crime organizado transnacional, defendeu hoje que Moçambique tem uma economia criminal consolidada, envolvendo traficantes de heroína que mantêm uma "relação duradoura" com elementos da elite política.
Moçambique tem uma economia criminal com alto grau de consolidação em redor de um punhado de figuras-chave, envolvidas nas rotas de heroína", referiu Simone Haysom, analista da organização Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional e coautora de um relatório do projeto Enact, financiado pela União Europeia (UE).
Aquela responsável falava durante a apresentação do trabalho de investigação intitulado "A Costa da Heroína", lançado em junho de 2018 e hoje debatido em Maputo, assinado também por Peter Gastrow e Mark Shaw.
Há indicações de que "pode haver pequenas destabilizações" entre os intervenientes nos negócios ilícitos, "mas por mais de duas décadas, tem-se mantido uma relação duradoura entre um pequeno número de traficantes proeminentes e a elite política, o que lhes permitiu fechar o mercado [moçambicano] a outros operadores", acrescentou a analista, sem nunca apontar nomes.
No caso, Moçambique funciona como um corredor para o tráfico de heroína oriunda da Ásia e que tem como destino a África do Sul, para daí seguir para os destinos finais, como a Europa, onde as redes ilícitas obtêm os maiores lucros.
O Quénia, por exemplo, "tem um ambiente político mais dinâmico", enquanto que o de Moçambique é "mais estático", com relações entre redes de tráfico e políticas "mais longas, fortes e difíceis de quebrar", destacou.
A costa norte de Moçambique é a zona do país privilegiada para a entrada da heroína, devido a diversas fragilidades e ao controlo exercido por organizações criminosas, mas sem ligação à violência armada que já matou, pelo menos, 150 pessoas em locais remotos da província de Cabo Delgado.
Pode haver "negócios pontuais", entre os autores de ataques e traficantes, mas não uma relação sistematizada, acrescentou Simone Haysom.
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