CINQUANTA anos é uma idade que significa, ou devia significar, maturidade, responsabilidade e, acima de tudo, comprometimento consigo próprio e com os que rodeia qualquer um.
No caso de pessoas, quando se chega a este marco da vida, regra geral como africanos, independentemente de ser homem ou mulher, já se tem filhos adulto e netos, razão para a sociedade cobrar um comportamento que dignifique esta idade de ouro.
No caso de um territórios, como é Matola, exige-se dos seus dirigentes o comprometimento do bem-servir que faz crescer os seus habitantes, com as condições merecidas de quem vive numa cidade que conta com 50 anos e, dos seus residentes, um comportamento responsável e colaboração.
É um percurso onde já não se tolera justificações do tipo “fomos apanhados de surpresa”. O tempo já foi suficiente demais para conhecer todos os problemas ou, no mínimo, a sua causa e as respectivas soluções, não valendo dizer que “fomos eleitos recentemente”.
Nestas condições, a memória institucional fornece toda a informação sobre tudo o que aconteceu e acontece em todo o território, incluindo a actuação dos seus colaboradores.
Matola é dos poucos municípios, senão único, com características ímpares. É que, diferentemente dos outros que são de cidade ou vila, o seu território contempla todo o território que compreende a parte urbana (40 por cento), caso de uma boa parte da Matola-Sede, incluindo Hanhana e outros lugares.
Tem também a área suburbana (20 por cento), a dos bairros residenciais de expansão, casos de Liqueleva, Mussumbuluco, Sikwama, Mahlampsene, Ifulene, Patrice Lumumba, Machava, entre outros.
Depois tem a parte rural (40 por cento), como Siduava, Mali, Nwamatibjana, Matola-Gare, Ngolhoza, Boquisso, Singathela, Matlhemele e tantos outros que sempre serviram para a prática da agricultura de subsistência.
DE VILA PARA CIDADE
Quando o Governo-Geral de Moçambique decidiu, através da portaria 82/72 de 5 de Fevereiro, elevar a então Vila Salazar à categoria de Cidade da Matola, tinha a intenção de promover o desenvolvimento do território, com padrões de uma urbe detentora de todas as condições para oferecer o bem-estar aos seus habitantes.
A decisão foi publicada no suplemento do Boletim Oficial, I série, número 17, de 8 de Fevereiro de 1972 e marcou o início de grandes transformações que prometiam trazer melhores dias aos cidadãos.
Aliás, uma das motivações desta elevação à categoria de cidade foi a capacidade económica que o território demandava, concretamente, o crescimento do parque industrial que prometia um desenvolvimento acelerado em todos os sentidos.
Basta recordar que já no princípio da década de 1960 houve a necessidade de transferir famílias que viviam no espaço onde se localiza a actual sede do Conselho Municipal da Matola, para dar lugar à construção das instalações do Centro Emissor da Rádio Clube de Moçambique, actual Rádio Moçambique, que também já foi transferido para N’sime, na Catembe, cidade de Maputo.
Outros foram retirados da zona do Língamo, próximo do Estuário da Matola, para dar lugar à construção das unidades industriais como a Cimentos de Moçambique, Companhia Industrial da Matola, BP Shel, Sonarepe, (actual Petromoc), Sonap, Química Geral, Moçacor, Fasol, entre outras companhias que iam surgindo depois da construção do porto.
Mas o primeiro sinal foi dado quando, nos finais da década de 1950, provavelmente, entre 1957/1958, veio à Matola, transferido de Zavala onde era administrador, Abel Baptista, para exercer as mesmas funções com a missão de dinamizar o crescimento da Vila Salazar. Foi a primeira vez que Matola teve um administrador, pois antes dependia, administrativamente, de Marracuene.
Foi assim que, ao cargo do Engenheiro Amâncio da Cruz, foi projectado o crescimento urbano que conduziu à criação da Câmara Municipal da Matola e Abel Baptista tornou-se o primeiro presidente.
Grandes empresas no crescimento da urbe
PARA o surgimento de novos bairros, as grandes empresas desempenharam um papel importante na edificação das habitações para os seus trabalhadores e outros residentes. Foi assim que surgiram muitas casas com desenhos e formatos idênticos que, facilmente, identificavam onde o seu proprietário trabalhava.
Era a parte social das empresas que queriam ter os seus trabalhadores mais próximo, pois muitos vinham de longe. Podemos contemplar isto até hoje nos bairros como Matola “F”, “G”, Fomento, Infulene, entre outros onde continuam imponentes casa da Sonarep, Fasol, Sonap, poi aí adiante.
Nos bairro de Fomento e Sial, por exemplo, foram erguidas casas com o apoio do Fundo de Fomento de Habitação, daí o nome, onde podemos encontrar casas com mais de 50 anos mas que continuam formes.
Também foram disponibilizadas “plantas tipo” e bonificadas para aqueles que pretendiam erguer suas habitações nos bairros devidamente parcelados. Esta iniciativa das “plantas tipo” foi adoptada nos primeiros anos da municipalização, entre 1998 e 2008, mas depois ficou descontinuada, mas parece que foi retomada recentemente.
É assim que podemos encontrar, em muitos lugares, casas com características idênticas, porque a Câmara Municipal da Matola queria dinamizar a urbanização, tendo colocado também à disposição dos interessados transporte de material de construção, onde era proibido erguer casas de caniço.
Haviam áreas não parceladas, embora com ruas abertas, onde esse tipo de construção era permitido, como os actuais Matola “D”, “H”, partes da Machava e Infulene, entre outros que passaram a ser chamados bairros de caniço.
Depois da independência, foram criados os distritos urbanos, onde Matola estava administrativamente ligada à cidade de Maputo, como área metropolitana. Nessa altura, para tratar qualquer documento, os residentes tinham que se deslocar à capital.
Matola era denominado Distrito Urbano Número Oito (DU8), seguindo os sete da cidade de Maputo e, mais tarde, foi se desligando para firmar-se como capital da província de Maputo mas, durante muito tempo, as direcções provinciais funcionaram na grande metrópole.
Depois vieram os conselhos executivos que deram outra dinâmica em termos de ordenamento e ocupação territorial e, em 1998, foram criados os conselhos municipais, com os mesmo objectivos de fazer crescer a urbe e trazer o bem-estar dos seus habitantes.
Momento de reflexão
DESDE antes de se tornar cidade, Matola teve os mesmos problemas que ainda aguardam pela solução, não importando agora enumerá-los porque alguns foram agravados pela falta de verticalidade de alguns dirigentes, como é o caso do saneamento e a rede viária.
Estamos em festa, e o bom senso manda chamar a todos os munícipes à reflectir sobre o que a Matola precisa para recuperar o seu lugar. Recuperar porque há muito que perdeu o estatuto de capital industrial de Moçambique.
A luta pelo reordenamento territorial, que permitiu a requalificação de muito lugares para acolher habitações, como Mussumbuluco, Sikwama, Mahlampsene, Kongoloti, Infulene, N’kobe, entre outros, trouxe algumas complicações que soluções, porque não se respeita os padrões sobre saneamento e abertura de acessos adequados.
Há que reflectir, de forma colectiva, se estamos a agir correctamente ao transformar todas as áreas de produção agrícola em zonas habitacionais, sem deixar reservas para outros serviços públicos.
Não seria tempo de se partir para uma aposta num crescimento vertical, com a construção de prédios habitacionais e de serviços na zona urbana e reservar áreas para a produção?
Na Matola havia quintas que hoje estão a ser transformadas em talhões de 15 por 30 e não se pensa na importância da componente produção para alimentar os habitantes que demanda a autarquia. Pode até parecer utopia, mas é preciso pensar que onde vivem pessoas deve haver comida e a sua aquisição não deve ser agravada pelo transporte.
Se olharmos com atenção, vamos perceber que mesmo no coração da cidade da Matola, as habitações antigas estão cercadas de quintas enormes, com áreas reservadas para a produção de hortícolas e criação de animais de pequeno porte como galinhas, coelhos, cabritos, suínos e mais.
Cinquenta anos depois, é tempo suficiente para colocarmos mão na consciência e tentarmos corrigir onde falhamos. Reflectir antes de dizer “Matola que queremos”, pois deve estar claro se queremos Matola para o bem ou a mergulhar na lama.
Motivo suficiente para dizer que, neste meio século de percurso, registamos avanços e recuos, mas sempre é tempo para endireitar o que está torto e não há espaço para sermos arrogantes e irredutíveis perante sucessivas chamadas de atenção.
Avanços porque há crescimento dos bairros habitacionais com casas de alvenaria, embora desordenadas nalguns casos, mas retrocedemos porque bloqueamos a passagem das águas, as estradas não resistem porque mal feitas e a ligação entre os bairros passou de mal a pior.
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