Vinte e seis dias depois da decisão de retirada coerciva dos vendedores a retalho do Mercado Grossista do Zimpeto, o Município de Maputo continua a cobrar, diariamente, multas no valor de 150 meticais. Os implicados dizem que este foi um pretexto para a edilidade agravar as taxas diárias, pois eles pagam para continuar a vender naquele local.
O jornal “O País” flagrou, esta quarta-feira, funcionários do Município de Maputo que cobravam a vendedores a retalho, de forma coerciva, o pagamento da multa de 150 meticais, por desobediência a uma ordem de retirada do Mercado Grossista do Zimpeto, onde, segundo a edilidade, só é permitido o comércio a grosso.
Afinal, aquela acção já é rotineira. Quando são 9 horas, os funcionários, portando uma bolsa e canhoto de recibos, circulam pelo mercado a cobrar a multa, por sinal, diária, a todos os vendedores a retalho. Quando pagam, é-lhes passado um recibo que comprova o pagamento e o dia de trabalho continua. Entretanto, quando não se tem o dinheiro, são-lhes retidos os produtos e só são reavidos mediante pagamento, como contam os lesados.
“Não sabemos por que nos mandam pagar 150 meticais quando não vendemos drogas, apenas produtos alimentares que eles mesmos precisam para as suas casas. Essa multa é diária. Mesmo hoje, já paguei. Independentemente de ter vendido ou não, amanhã teremos de voltar a pagar, caso contrário irão levar os nossos produtos”, disse Célia Mazive.
Uma outra vendedeira, que hoje não teve dinheiro para pagar, viu os seus produtos a serem levados, mas ela não se deu por vencida e revidou, tendo recorrido à força para impedir que o seu “esforço” fosse lesado.
Durante a “disputa”, ouvia-se do agente: “aqui não é local para vocês venderem. Saiam deste mercado e vão para os mercados retalhistas”, enquanto a senhora revidava, dizendo: “sair para onde? Hoje, por não ter os 150 meticais, mandas-me embora e dizes que existe mercado para nós, mas, nos outros dias, quando aqui vens, levas o dinheiro. Deixa as minhas coisas, aqui não levarás nada”.
E assim venceu a batalha, mas sabia que era “sol de pouca dura”, pois não poderia agir da mesma forma nos próximos dias.
Ora, há pouco menos de um mês, a edilidade deu um prazo para a retirada voluntária dos vendedores a retalho daquele mercado, para outros circunvizinhos, tendo dito que o de “Matendene” se encontrava com bancas vazias, entretanto estes recusaram-se. Por isso, a edilidade, como forma de pressão, optou pela aplicação de multas.
Esta decisão não está a ser bem recebida pelos comerciantes e acusam o município de se aproveitar da situação para agravar a taxa diária, pois “todos os dias, são multadas as mesmas pessoas”, contou uma das comerciantes.
Instala-se, desta forma, o braço-de-ferro entre a edilidade de Maputo e os vendedores a retalho, uma relação de gato e rato que já dura quase um mês.
Há, no Mercado Grossista do Zimpeto, 800 vendedores retalhistas, segundo o Município de Maputo, que devem abandonar aquele local e ocupar os mais de três mercados circunvizinhos que, neste momento, têm bancas vazias.
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