Moçambique tem cerca de 900 crianças a viver na rua

 Num mês que se celebram efemérides da criança, os dados revelam que cerca de 900 petizes vivem na rua no país. Os problemas que este grupo enfrenta e o drama de sobrevivência a que está sujeito é o mesmo de sempre, mas faltam soluções.



Entregues à própria sorte, estas crianças estão dia e noite expostas a intempéries. Neste Inverno, não escapam do frio por falta de abrigo e agasalhos.


As circunstâncias da vida que empurraram João Elías para a rua, são similares a tantas outras crianças cujos sonhos foram interrompidos pela ausência de amparo e protecção.


“Eu vivia com a minha avó na província de Gaza, cidade de Xai-Xai. Fugi de casa porque ela me maltratava e o meu pai nunca quis saber de mim, abandou a minha mãe ainda grávida. A minha mãe foi formar uma nova família e, sempre que procurei por ela para falar sobre a minha situação se mostrou indisponível e desinteressada”, contou Elías.


Mas de quê João sobrevive e como faz para ter acesso à roupa?


“Para me alimentar, procuro restos na lata de lixo e peço as pessoas na porta centros comerciais e restaurantes”.


João tentou regressar à casa mas não houve ambiente para a sua reinserção.


“Liguei para minha tia mas as notícias não eram satisfatórias, soube que minha avó vendeu a casa onde vivíamos por causa de dívidas que tinha com o banco e minha mãe disse que os filhos que ela cuida já são o suficiente, já não tinha espaço para mim”.


Apesar de todo o sofrimento, João mantém a esperança de dias melhores, sobretudo voltar a estudar, ter trabalho e melhores condições de vida.


Já a história de Edson Macuácua, companheiro de João Elias, não é muito diferente. Abandonado ainda recém-nascido pelos seus progenitores, Edson foi criado pela sua avó com quem teve desavenças e foi obrigado a sair de casa.


“Os meus pais abandonaram-me ainda bebé, minha avó é quem me criou, mas quando fui crescendo as coisas mudaram, dia após dia eram discussões. Me acusava de furto, enquanto eu trabalhava para ajudá-la”, contou.


Edson fala também das dificuldades que enfrenta no seu dia-a-dia.


“Estamos a sofrer, não temos o que comer e cobrir. Alguns dias conseguimos nos virar, mas nos dias de chuva sofremos mais, não temos como nos proteger. Por vezes ficamos doentes por conta do frio”.


As entidades responsáveis pela protecção das crianças mostram-se, como sempre, preocupadas, mas acções concretas para tirar os petizes da rua parecem tardar chegar.


Para responder a este problema, que a cada ano se agrava no país, o Ministério do Género, Criança e Acção Social diz ter um plano com vista a evitar a permanência de crianças na rua.


“A situação das crianças que vivem na rua é preocupante. O ministério só no primeiro trimestre do corrente ano, conseguiu reassentar 48 crianças as suas famílias mas o trabalho não para, o sector do Género, Criança e Acção Social está a envidar esforços, em coordenação com outras entidades, de modo a eliminar ou diminuir estas situações no país.”


Enquanto centenas de crianças não têm abrigo e fazem-se constantemente à rua para sobreviver, Inês, de 12 anos de idade, está diariamente na via pública porque trabalha para alguém, e a sua jornada começa logo pela manhã, para vender biscoitos.


“Eu sou de Gaza, tenho 12 anos e nunca estudei. Saio de casa logo pela manhã para vender biscoitos, aqui no mercado, para me sustentar. Meu pai está doente e minha mãe não tem um emprego condigno para me sustentar, então todos temos de procurar formas de ganhar dinheiro”.


Inês é apenas um exemplo do que se passa em várias artérias da cidade de Maputo.


O ministério da Criança fala de acções para evitar que as crianças continuem vulneráveis ao trabalho infantil.


“Estamos a dar apoio a algumas famílias carenciadas através do subsídio social básico para desencorajar essas atitudes por parte dos encarregados e das crianças, que saem às ruas para trabalharem em troca de dinheiro para auto-sustento.”


Apesar de serem sobejamente conhecidos os problemas que levam várias crianças à rua, as soluções não chegam e os petizes, vendo o seu futuro ameaçado, lembram que a escola e a família são alguns direitos que não podem, mas continuam a ser pontapeados.

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