Um jornalista que nos últimos tempos destacou-se pelas crónicas que expunham os dilemas da vida política e social do país. Juma Aiuba morreu aos 40 anos de idade na sua residência em Nampula, vítima de doença.
“Co’licença”! É assim como Juma Aiuba terminava as suas crónicas que dificilmente chegavam aos três mil caracteres. Escrevia pouco, mas dizia muito. Falava de vários assuntos, o último a abordar foi a carta de demissão do Professor Hélder Martins e a crónica foi publicada no jornal “Carta” dois dias antes da sua morte.
O seu espaço tinha uma credibilidade tal que tinha patrocínio exclusivo de uma grande empresa nacional. Juma, o Aiuba, era da Zambézia, mas foi em Nampula onde se estabeleceu e se tornou um profissional do mundo. Trabalhava para organizações não-governamentais internacionais e era reconhecido pela verticalidade e frontalidade com que defendia os seus princípios. Na madrugada do dia 24 partiu para o além, na sua residência, na cidade de Nampula, deixando todos perplexos.
“Estava a ter acompanhamento médico desde a primeira vez que sentiu dores na coxa direita. Dores que todos nós achávamos que eram ligeiras e que pudessem passar. Dias depois vimos a perna a inchar. Foi só isso. Os exames clínicos não dizem nada”, disse Mamudo Aiuba, irmão.
A morte é natural, só que quando acontece de forma abrupta cria choque a dobrar. Amigos e colegas lembram o percurso de um jornalista com uma escrita seleccionada, sempre contando com uma inspiração qualquer coisa como divina. Rosa Inguana, com quatro décadas no jornalismo tem várias memórias: “Era amigo nosso no Sindicato Nacional de Jornalistas aqui em Nampula e deu muitas contribuições, inclusive palestras e formação. Nós recorremos aos préstimos deste colega que, aliás, era licenciado em jornalismo e tinha muita experiência de aprendizagem”.
Agia no silêncio. Era dono de uma perícia de serpente. Aquilo que escrevia só podia acontecer no silêncio da madrugada – a hora dos dedicados. E na aurora, lá estava a sua obra de arte a invadir telefones, escritórios, fazendo gerar uma reflexão com humor à mistura.
O acadêmico António Muagerene trabalhou com Aiuaba em muitas consultorias e tornaram-se amigos.
“O Juma parte depois que criou um nicho na sociedade moçambicana de seus leitores, sobretudo porque tinha isso, diferentemente de jornalismo de reportagem de eventos, ele era um jornalista interventivo, mas com uma capacidade cativante que era própria de um cronista da sua dimensão”.
As cerimónias fúnebres foram realizadas esta quinta-feira em Nampula. Juma Aiuba era natural da Zambézia. O edil de Quelimane, Manuel de Araújo, fez-se presente no velório e destacou as qualidades do jornalista.
“No seu espírito sempre crítico, de querer contribuir para este país, aconselhava-nos sobre alguns aspectos da governação, sobre a nossa postura. Portanto, é com essa imagem com que fico, de um jovem probo, um jovem que acreditava que era possível viver num país democrático; lutou para isso e deixa-nos um legado”.
Juma Aiuba morre aos 40 anos de idade. Deixa viúva e cinco filhos.
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